Por Luciano Moreira
Sou jornalista há 23 anos, 5 meses e 14 dias. Me esmero nessa conta porque minha carreira poderia ter terminado nesta quinta-feira, dia 6 de fevereiro, de maneira trágica, durante a cobertura do confronto entre a comunidade da Boca do Mato e Policiais Militares.
Primeiro tenho que esclarecer que não estava lá, na linha de
tiro, porque queria, efetivamente, estar ali.
Cheguei a Cabo Frio há 4 anos, para ser editor do extinto
jornal Diário do Litoral e minha “especialização” sempre foi o jornalismo
político. Foi para isso que fui
convidado pela Renata Cristiane para colaborar em seu blog: escrever sobre política.
Mas, uma vez na redação e os fatos acontecendo, acabamos,
todos nós, jornalistas, escrevendo sobre tudo.
Foi assim que fui “escalado” para cobrir o confronto.
Comecei conhecendo o lado da truculência dos traficantes, ao
ser abordado por rapazes imberbes que me obrigaram a entregar meu equipamento e
“subir” para um local que não cheguei a conhecer – graças a Deus e a um anjo da
guarda – momento em que só lembrei de Tim Lopes e do “micro-ondas” de pneus.
Depois, conheci, ao mesmo tempo, o desespero de estar na
linha de tiro – de ambas as partes – e a solidariedade entre os alvos, pois,
enquanto corria dos tiros da polícia, as pessoas à minha volta me puxavam, me
mandavam entrar nos becos e me indicavam os locais “seguros”. Já ao lado dos
PMs, um deles genuinamente preocupado comigo, me avisou com toda a cordialidade
que a rispidez permite: - Você não está vendo que está no meio de um tiroteio?
Está de colete? Não? Então pega sua moto e vai pra um local seguro!
Nunca obedeci a uma ordem alheia com tamanha rapidez e
agilidade!
Durante essa espécie de choque de realidade, as sensações se
sucedem de forma quase que paralela as reações instintivas.
É óbvio que nos momentos em que estava junto às pessoas da
comunidade, o sentimento de revolta ou, até mesmo, de que o que acontecia era
covardia, tentava se apossar das minhas opiniões.
É óbvio, da mesma forma, que me sensibilizei com os PMs
acossados – pelo menos oito deles se espremendo em um espaço de, no máximo, 2 x
2, para se proteger dos tiros que vinham em sua direção – e que tiveram a
preocupação de me alertar para minha vulnerabilidade no local em que estava.
Um sentimento diferente, que nunca havia sentido, foi o que me
acometeu no sepultamento do Gabriel de Souza Santana, o rapaz de 17 anos que vi
morrer enquanto corria dos tiros. A comoção
de seus parentes, mesmo associada a um profundo sentimento de revolta, me fez
perceber o quanto somos todos iguais na hora da dor. Bandido, PM, eu, você, todos choramos, todos
temos sentimentos.
A primeira lição que tiro disso tudo é que, no fim, acabo
sempre falando de política enquanto jornalista.
Ou da FALTA dela!
Da falta de políticas públicas que norteiem uma sociedade
mais justa, mais cidadã, mais honesta e menos hipócrita, que não jogue cidadãos
contra cidadãos e que não crie classes sociais e profissões do bem ou do mal.
A segunda lição é o quanto nossa família vem à nossa mente quando estamos em perigo.
No fim de tudo, passamos nossas vidas nos defendendo,
instintivamente, para sobreviver, usando as armas – mecânicas ou intelectuais –
que a vida nos disponibiliza em seu curso natural.
Parabéns Luciano ,acompanhei tudo pelas suas reportagens .parabéms pela sua isenção .mais gostaria de ressaltar a falta de planejamento em nossa cidade .falta de planejamento geral pois somos um município com recursos(royalties), que não vemos traduzidos em bem estar para o município .
ResponderExcluirPerfeito!
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