A história é de pescador, mas é verdadeira e tem
testemunhas. Nos dois primeiros anos da década passada, Francisco da Rocha
Guimarães Neto, de 42 anos, que é bisneto, neto e filho de pescador, e um grupo
de amigos que vivia da pesca na Lagoa de Araruama alugaram um caminhão, puseram
suas canoas na carroceria e foram pescar parati na Baía da Ilha Grande, a 300 quilômetros da
Região dos Lagos. Francisco, mais conhecido como Chico Pescador, recorda ainda
que, no início da década de 90, ele e alguns colegas foram chamados de doidos
quando previram que a expansão imobiliária descontrolada levaria muito esgoto
sem tratamento e acabaria com os peixes da maior lagoa hipersalina do mundo,
com 220 quilômetros
quadrados. Não deu outra: anos depois, as águas cristalinas sumiram com os
peixes e camarões, expulsos pela poluição, que deixou a lagoa escura e com
cheiro de esgoto.
Vinte anos depois do alerta, o quadro ainda não é o sonhado
pelos pescadores, mas os peixes voltaram, a produção de camarão está batendo
recordes e a qualidade da água melhorou, chegando a ficar cristalina nos pontos
mais afastados das cidades. Cerca de 600 famílias voltaram a sobreviver da
pesca na lagoa, que também está voltando a receber esportes náuticos, o que há
tempos não se via por lá. Até há pouco tempo, o cais do Boqueirão, em São Pedro da Aldeia,
estava praticamente abandonado, mas voltou a ser visitado por toneladas de
peixes no início da tarde e de camarões à noite.
— A pesca melhorou muito. Estamos pegando tainhas grandes e
já houve semanas em que pescamos 30 toneladas de camarão. É uma quantidade
espetacular se levarmos em consideração que a lagoa estava praticamente morta
por causa da poluição. A água doce arrasta esgoto e, em épocas de chuvas, até
agrotóxicos para a lagoa. Eu vi esta lagoa viva, morta e agora ressuscitando –
comemora Chico, que pesca desde os 8 anos de idade e na quinta-feira exibia uma
perumbeba, de cinco quilos, pescada na lagoa.
A qualidade da água vem melhorando desde que os serviços de
abastecimento de água e de tratamento de esgotos na Região dos Lagos foram privatizados,
a partir de 2002. As concessionárias construíram estações de tratamento , e o
governo estadual fez um nova ponte, dragou e alargou o Canal Itajuru, em Cabo Frio , que liga o
mar à lagoa. Com isso, há uma renovação constante das águas, que até então
ficavam represadas. Na quinta-feira, foram pescados 1.200 quilos de peixes, que
foram despachados para os mercados de São Pedro da Aldeia, Niterói e São Paulo.
— Há 20 anos, havia fartura de peixes e por isso troquei o
Rio pela Região dos Lagos. Mas o esgoto matou a lagoa. Nos últimos dois anos,
houve uma melhora e já é possível ver tartarugas, que não pescamos, e peixes
como corvina e caratinga, espécies que estavam sumidas há muitos anos. Nossa
preocupação é o sistema de tempo seco, que não impede que o esgoto chegue à
lagoa em época de grandes enchentes. Estamos felizes, mas ao mesmo tempo
apreensivos — disse Alceni dos Santos Leal, de 49 anos, que pesca peixes e
camarões na lagoa.
Um problema que ainda persiste, o lançamento dos efluentes
tratados nas estações na lagoa começa ser atacado dia 6 de fevereiro, em São Pedro da Aldeia,
durante a posse do novo presidente do Consórcio Ambiental Lagos-São João. O
governador Sérgio Cabral anunciará um conjunto de obras, com recursos de R$ 32
milhões do Fundo de Conservação do Meio Ambiente (Fecam), para reuso dos
efluentes. Eles serão bombeados para irrigar uma região agrícola e depois
lançados no Rio Uma. Como isso, a lagoa deixa de receber milhares de litros de
água doce. Os recursos do Fecam também serão investidos em obras de contenção
na Lagoa de Juturnaíba, de onde sai a água que abastece a Região dos Lagos, e
no saneamento de toda a Lagoa de Geribá, impedindo que o esgoto polua a mais
procurada praia de Búzios:
— As obras, em sete locais diferentes, vão melhorar as
condições de três lagoas, levar irrigação a uma área agrícola de dez
quilômetros quadrados e melhorar a qualidade da água nas duas praias mais
frequentadas da Região dos Lagos, que são a do Forte, em Cabo Frio , e Geribá, em
Búzios — disse o secretário do Ambiente, Carlos Minc.
Presidente da ONG Viva Lagoa, Arnaldo Villa Nova, recorda
que a Lagoa de Araruama teve sua falência ambiental em 2000, quando foi tomada
por uma grande quantidade de algas. O odor era insuportável, e os peixes
sumiram. A recuperação, segundo ele, começou em 2005. O monitoramento
e a qualidade da água melhoraram, mas a lagoa ainda não
chegou à qualidade de 20 anos atrás:
— A melhora é incontestável, tanto que os peixes e camarões
estão aí de volta, e isso é muito bom. Faltam dois pontos importantes para que
a lagoa chegue ao seu nível ideal: a continuação do desassoreamento do Canal
Itajuru, para aumentar a troca de água da lagoa com a do mar, e mais saneamento
básico em alguns pontos críticos que ainda não foram atacados — sugeriu Villa
Nova.
Com recursos do Consórcio Ambiental Lagos-São João (CALSJ),
formado pelas prefeituras da região, com apoio da Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio (Fiperj), 15 agentes começam a trabalhar no
dia 6 nas colônias de pesca da Lagoa de Araruama. Eles anotarão diariamente
toda a produção de pescado, especificando o tipo de peixe, para,
no final de um ano, concluir a estatística do potencial pesqueiro da lagoa,
indicando, inclusive, as espécies que voltaram a povoar o local.
— Os agentes também observarão os equipamentos dos barcos
pesqueiros para evitar a pesca predatória. Ao final do trabalho teremos um
diagnóstico completo da lagoa. E, em julho, agosto e setembro, teremos a volta
do defeso. Até agora não tínhamos porque não havia peixes a preservar —
explicou o secretário-executivo do CALSJ, Mário Flávio Moreira.
Fico feliz que alguém esteja vendo melhorias na lagoa, porque eu não consigo perceber estas melhorias, mossoró, camerum, praia do sol, praia do Sudoeste e todas nestas proximidades como na ponta da areia, cheiram cada vez mais a esgoto. É fácil identificar valas negras que saem direto na lagoa. Na ponta da areia próximo as pousada enseada das garças a maioria das casas utilizam sistemas de fossas e sumidouros, saneamento básico ainda não chegou por aqui.
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