quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Amor bandido: Roninho atirou na polícia para salvar a mulher

Líder do PCC preso em Cabo Frio arriscou 
a vida para livrar a mulher da prisão



História da série A Teia se confunde com a de Roninho do PCC (Reprodução/TV Globo)

Diogo Reis

“Ele parecia um guerrilheiro angolano. Atirava sem parar”, relata um sargento do 25º Batalhão de Polícia Militar (BPM) que foi alvejado por Ronny Faria e Silva, o Roninho, e saiu ileso em operação nesta terça-feira (4), na Avenida Porto Alegre, próximo à rodoviária de Cabo Frio. Com uma coragem singular, o criminoso, apontado como líder do PCC na cidade de São José dos Campos, tentou resgatar a mulher, identificada como Suênia Maria Lima Gomes, que era levada para a 126ª DP. E conseguiu. Pagando com a própria pele – ele foi baleado na perna e nas nádegas –, a companheira e comparsa conseguiu fugir com outro membro da quadrilha em meio ao tiroteio.


O amor bandido Roninho e a mulher que causou pânico nos arredores em um dos pontos mais movimentados da cidade, é digna de cinema. A minissérie “A Teia”, da TV Globo, que estreou no último dia 28, Marco Aurélio Baroni (Paulo Vilhena) é um chefe de quadrilha especializada em grandes assaltos. O principal caso é o assalto a uma carga de ouro em Brasília, crime semelhante ao mais notório de Roninho, que liderou ação criminosa semelhante, em 1996, no aeroporto de São José dos Campos (SP), quando foram roubados R$ 6 milhões.


“Percebemos pela conduta dele ao tentar resgatar a esposa, atirando sem receio contra nossos policiais, que a ação dele não é de amador. Eles se instalaram na Região dos Lagos, mas costumavam agir em assaltos no Rio. O próximo passo desta quadrilha era assaltar a prefeitura de Duque de Caxias, de onde planejavam levar mais de R$ 1 milhão. Era uma quadrilha especializada em assaltos à bancos. Não descartamos a possibilidade de que eles viessem a agir em assaltos na nossa região também”, analisa o tenente-coronel Ruy França, comandante do 25º BPM.

Ao livrar a pele da mulher Roninho entra para a história não só da cidade, mas também da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que conseguiu prender o oitavo homem mais procurado pela Civil de São José dos Campos (SP), onde é apontado com o líder do PCC, maior facção criminosa de São Paulo, na região. Tudo graças a integração entre 25º BPM (Cabo Frio) e o 15º (Duque de Caxias), que compartilhou informações de que membros da quadrilha do PCC estaria na cidade.

Ao enfrentar um bandido com o qual não estavam acostumados a enfrentar, nossos policiais se mostraram totalmente preparados. No tiroteio, nenhum agente ficou ferido. Nenhum ferimento por bala perdida foi registrado: “todos aqueles tiros no carro foram para me acertar. Só Deus para permitir que nenhum morador fosse ferido ali”, contou o policial. 

“É um indivíduo extremamente qualificado para o crime e sempre deu trabalho para os nossos policiais”, disse o delegado Osmar Henrique de Oliveira, da Polícia Civil de São Paulo, ao jornal O Vale. 





“Ninguém nunca morreu de tiro na bunda”

Personagem da Globo
vive história aprecida
à de Roninho
(Divulgação/TV Globo)
A arte inspira a vida, de fato, mas as coincidências no caso Roninho são incríveis. Enquanto o segundo episódio de “A Teia” ia ao ar, certamente, ele via um filme passando pela cabeça – ele foi preso em fevereiro de 2001 e estava foragido desde dezembro de 2012, quando foi beneficiado pelo indulto de Natal – quando o detento, por ‘bom comportamento’, é liberado para passar as festas de fim de ano com a família. 


Em uma das primeiras cenas mostradas pela série da TV Globo, as coincidências. A história de Marco Aurélio Baroni (Paulo Vilhena), personagem inspirado em Marcelo Moacir Borelli, morto em 2007 por complicações da Aids, foi condenado há mais de 160 anos de prisão pela Justiça brasileira, se confunde com a de Roninho. E até uma inusitada declaração sobre um ferimento igualmente incomum: tiro na bunda.

“Ninguém nunca morreu com tiro na bunda”, disse Marco Baroni numa das primeiras cenas da série policial. E foi justamente esse ferimento que fez Roninho ser preso pela segunda vez. 



Tiro na bunda não mata, mas impede fuga

Foto: Filipe Rangel/Folha dos Lagos





A ação

Segundo o coronel França, o comando do 15º BPM acreditava que tinham outros elementos da quadrilha escondidos na Região dos Lagos. Por isso, montaram uma emboscada simulando aceitar um suborno de R$ 50 mil para libertação dos bandidos que tinham sido presos no Rio. 


No momento do encontro, marcado próximo à rodoviária, Na Rua Goiás – a 600m do 25º BPM –, a esposa de Ronny, Suênia Maria Lima Gomes, 31, (identificação que a polícia acredita ser falta) recebeu voz de prisão. Mas eles haviam combinado um código, caso algum problema surgisse. O código era soltar os cabelos.  Roninho, que estava à espreita em outro carro, um CRV Honda, saiu do veículo gritando e atirando de fuzil contra os policiais para libertar a mulher. 

Roninho já foi condenado por roubo, porte ilegal de armas, furto, ameaça, lesão corporal, resistência, formação de quadrilha, homicídio, sequestro e cárcere privado, dano, tentativa de homicídio e tráfico internacional de armas.


“Este elemento passeia pelo código penal. Um criminoso de alta periculosidade e de muito grande na hierarquia do crime. Nas consultas ao site da justiça, pudemos verificar a importância deste elemento nas ramificações criminosas em São Paulo. Ele foi o cabeça do assalto ao avião da TAM, em 1996”, disse o coronel França.


Roninho Farias foi transferido na madrugada desta quarta-feira (5), às 2h. Foram usados dois helicópteros na operação. As aeronaves pousaram no pátio da Auto Viação Salineira de onde seguiu para a Cidade da Polícia, que fica em Manguinhos, na capital do Rio de Janeiro, onde permanece preso sob forte escolta para evitar fuga ou tentativa de resgate por criminosos do PCC.



Armas de última geração e R$ 50 mil que seria usado em propina





Armamento pesado

O armamento apreendido é mais um sinal da alta periculosidade de Roninho. O fuzil Colt 556 é uma arma de alto poder de fogo, usado pelo exército americano. O modelo usado contra os agentes da inteligência da PM é de calibre semelhante ao usado Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.


A pistola Glock 9mm é uma arma austríaca que tem uma série de diferenciais. Além de ser mais leve que as demais, ela tem uma rajada que a deu um apelido de "prima das metralhadoras". O tiro dela viaja à velocidade de 338m/s, quase a mesma velocidade do som. No Brasil, o uso dela é altamente restrito, às Forças Armadas e Polícia Federal.



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