sexta-feira, 23 de março de 2012

Artigo Renato Silveira: A raiz da violência




A raiz da violência
  
Foi positiva a repercussão da Audiência Pública promovida em Cabo Frio pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), através do deputado estadual Jânio Mendes (PDT), que teve como tema a crescente violência por qual vem passando as cidades da Região dos Lagos.

Mas as soluções apontadas (não estive no encontro, apenas li várias reportagens e comentários sobre) esbarraram na obviedade de sempre. Mais policiamento, delegacias legais (as outras são ilegais???) e a velha cantilena sobre o tráfico de drogas e a importação de bandidos expulsos do Rio de Janeiro após a criação das Unidades Pacificadoras de Polícia (UPP).

O que ninguém ataca de frente mesmo é a nossa velha hipocrisia. Recentemente uma joalheria resolveu deixar de funcionar no Centro de Cabo Frio após ser assaltada oito vezes. E a proprietária deixou claro que isso acontecia muito provavelmente devido ao fato de se recusar a pagar por proteção particular. Ou seja, não pagou, dançou.

Jânio estava atento a isso e como esse era um assunto para o especialista em milícias, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), ele foi trazido aqui. Mas um ataque frontal ao problema não foi efetuado pelo simples fato de que não há muito interesse no assunto. A maioria dos comerciantes prefere essa tal proteção, mesmo que paguem por ela duas vezes. E quem fornece a suposta segurança, quer o dinheiro extra, já que os caraminguás pagos pelo Estado são bem mixurucas.

Outro equívoco é a política das drogas. Certo que Cabo Frio não é o fórum adequado para se chegar a solução de um tema de âmbito mundial, mas isso, na minha opinião, deveria se repetido como um mantra: precisamos rever a legislação. Para começar, não faz muito sentido proibir pessoas adultas de fazerem o que estão a fim, desde que não seja matar, roubar ou prejudicar outra pessoa. E como querem fazer isso, acabam criando um mundo paralelo para que isso seja vendido e consumido, o que gera clandestinidade. Que por sua vez, gera violência, corrupção policial, judicial e por aí afora.

Sem falar que as drogas continuam circulando, não livremente, mas com bastante elasticidade, em todos os meios sociais, desde as favelas às festas da elite. Ou seja, estamos enxugando gelo e criando bandidos fictícios. O cara que está na esquina traficando poderia não ser perigoso, apenas um comerciante como outro qualquer. Mas a gente prefere que continue assim. Por pura hipocrisia.

A chegada do crack modificou um pouco as coisas e complicou a chegada de uma política mais liberal para o assunto, já que, se com as outras drogas, a maioria dos usuários continuava a levar uma vida normal, trabalhando, estudando e consumindo nas horas vagas, com ele, larga tudo e passa a viver em função de se drogar. Mas continuo achando que cadeia e polícia não são a solução. O tema é extenso e na próxima semana retorno a ele.

Um comentário:

  1. Renato, você realmente escreve muito bem! Vou querer ler sobre o 'tema' na próxima semana.
    Forte abraço,
    Fernado

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