terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cabo Frio faz homenagem a Antônio Gastão



A Secretaria de Cultura, dentro do projeto “Nossos valores a gente nunca esquece”, vai realizar, a partir desta quarta-feira, dia 18 de janeiro, às 20h, no Charitas, a exposição “Antônio de Gastão – 100 Anos de Arte Popular 1912-2012”, que comemora o centenário do que é considerado o maior ícone da cultura popular cabofriense: o artista plástico Antônio de Gastão. A exposição ficará no Charitas até o dia 5 de fevereiro.
Antônio de Gastão, na verdade Antônio Barros da Cruz, nasceu no dia 13 de fevereiro de 1912 numa modesta casa atrás dos muros do Convento de Nossa Senhora dos Anjos. Seus pais, Gastão Freire Sardinha e Maria da Conceição, registraram o menino com o nome do avô.
Na infância, ele já ensaiava o sonho de ser artista quando fabricava seus próprios brinquedos. Aos doze anos mudou-se com a família para o bairro do Algodoal, mais perto do mar. Nas caminhadas pela restinga, aprendeu os mistérios da fauna e da flora, seus manejos e propriedades. Com o pai, trabalhou na construção de casas de estuque, depois em carvoaria e na pesca, quando começou a demonstrar toda sua destreza, aprendendo a capturar o pescado com maestria e construindo os apetrechos usados na labuta marítima. A linha para pescar ele tirava da fibra de tucum, uma palmeira muito comum na região, e a rede, confeccionava com cipó de ipomea, planta rasteira do litoral.
Adulto, dedicou-se a diversas atividades: firmou parceria com Chico Estêvão, quando fundaram a primeira escola de samba da cidade, a Paz e Harmonia, e com o amigo Zé Barbosa promoveu concorridos bailes, fazendo teatro em Búzios e Arraial do Cabo, divertindo crianças e adultos com seus bonecos de madeira e isopor.
Nas festas populares, como do Divino, São Benedito e Santo Antônio, ele sempre estava com seu violão, interpretado e compondo, animando os folguedos: tontinha, quadrilha e as folias, como a do Divino, de Reis, de tradições portuguesas. Assim como o jongo, o bangulê, o batuque dos negros e a umbigada, de tradições africanas.
Antônio de Gastão era um homem de talentos múltiplos. Compunha versos, prosas, canções; fazia pinturas em telas, miniaturas de traineiras e canoas, esculturas de bonecos, aves e animais em madeira e em pedra, além de cerâmica, fantoches, cabeçorras e várias outras manifestações de um vasto repertório. Tornou-se o mais ativo e completo artista popular, não apenas de Cabo Frio, mas de toda a região.
Na edição de 1981 da revista Cláudia, a arte de Antônio de Gastão foi apresentada ao grande público. Em 1984, junto com outros artistas populares regionais, seus trabalhos entraram em exposição com muito sucesso na Galeria Aramayo, em Montevidéu, no Uruguai, A “Revista Geográfica Universal”, de grande circulação nacional, em sua edição de março de 1986, trouxe Antônio de Gastão em sua plenitude criativa.
A credibilidade de sua sabedoria e a preocupação com que tinha pelas causas ecológicas o tornaram uma espécie de porta-voz dos movimentos ambientalistas. Pesquisadores e grupos de alunos íam a sua casa, na Rua Francisco Paranhos 114, para ouvir suas histórias.
Com base nesses conhecimentos e fundamentada em pesquisa realizada ao longo de três anos, a Funarte, através do Instituto Nacional do Folclore, lançou em 30 de março de 1989, no Museu do Folclore Edson Carneiro, no Rio de Janeiro, o livro “Antônio de Gastão, Pescador de Cabo Frio”, idealizado por Amena Mayall. Em Cabo Frio, o livro foi lançado em 8 de abril no Museu de Arte Religiosa e Tradicional, no Convento Nossa Senhora dos Anjos, consagrando definitivamente o artista.
O livro foi escrito a partir da transcrição da narrativa de Antonio de Gastão – pescador, poeta, escultor, pintor, músico, contador de estórias, festeiro, organizador de teatro de bonecos, artesão e ambientalista – com encarte de disco compacto duplo contendo suas composições. O livro constitui-se no mais importante registro sobre sua vida, sua arte, seu meio social e a sua luta para despertar no homem os valores que julgou serem fundamentais: o respeito à natureza e a preservação dos bens culturais.
Em decorrência de um agressivo câncer no estômago, Antônio de Gastão morreu no dia 8 de janeiro de 1990, aos 77 anos de idade.

Viviane Rocha
*Com pesquisa e colaboração de Evângelus Pagalidis

Um comentário:

  1. O meu grande ídolo, Antonio de Gastão, meu avô.Marcelo lyra.

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