quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

ONG pede ao MPF que investigue incêndio na Reserva de Poço das Antas

Tragédia: preguiça morta no incêndio

O incêndio área equivalente a 20 campos de futebol matando espécies animais nativas que estão em extinção. Ambientalistas pedem explicação e denunciam descaso.

O presidente da ONG SOS Aves e Cia, Paulo Maia, pediu nesta quarta-feira ao Ministério Público Federal (MPF) que instaure um inquérito civil para investigar a causa e as ações que foram feitas para impedir a propagação do incêndio que queimou, de sexta-feira a domingo, cerca de quatro milhões de metros quadrados da Reserva Biológica de Poço das Antas (Rebio), em Silva Jardim, na região da Baixada Litorânea, a 150 quilômetros do Rio. Numa área equivalente a 20 campos de futebol, uma equipe técnica da Associação do Mico-Leão Dourado (AMLD) encontrou mais de 20 mamíferos mortos, durante caminhada na terça-feira. Eles não contabilizaram as carcaças de animais, insetos e aves vítimas do incêndio.



— É um caso grave que expõe a enorme fragilidade de nossa ainda precária estrutura para a conservação da natureza no Brasil. A equipe voltou arrasada com o que viu. Poço das Antas é a primeira Reserva Biológica do Brasil. A Rebio é o habitat do mico-leão, da preguiça de coleira e de outras espécies importantes da fauna e da flora da Mata Atlântica. Tem valor histórico e simbólico na luta conservacionista. É sede de um dos mais importantes trabalhos integrados para salvar uma espécie da extinção, o mico-leão-dourado, candidato a Mascote Olímpico – lamentou o secretário-executivo da AMLD, Luiz Paulo Ferraz.
Luiz Paulo destaca a gravidade do problema

A equipe da associação encontrou na área queimada preguiças de coleira, uma família de quatis, copias, capivaras e preguiças, todos mortos. Conseguiram salvar três quatis e uma capivara que estavam com ferimentos.

— Se considerarmos que foram queimados mil hectares é possível dimensionar o tamanho da tragédia. Importante destacar que só foi possível percorrer o local dois dias depois de o fogo ser controlado, devido à temperatura do solo. Milhares de urubus e gaviões foram vistos na área, o que permite afirmar que este número é pouco representativo. Uma cotia só foi reconhecida pelo couro. O estrago é maior se considerarmos os insetos, pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e mesmo aves, além da vegetação perdida, em sua maioria em fase de regeneração. Não foi constatada a morte de nenhum mico-leão-dourado e a associação estima que na região afetada a probabilidade de isso ter ocorrido é pequena – acrescentou Ferraz.

O incêndio começou num assentamento do Incra, ao lado da Rebio, por volta do meio-dia de sexta-feira. O combate ao fogo foi feito por funcionários da reserva e 25 voluntários de Casimiro de Abreu e Rio das Ostras. As guarnições do Corpo de Bombeiros chegaram no domingo, quando só havia pequenos focos de incêndio. A brigada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) não pôde ser mobilizada porque, por falta de recursos, ela só fica a postos seis meses por ano, na época da seca, que ocorre no inverno.

— Na hora “H” não havia brigada de incêndio nem esquema de emergência. O telefone da Rebio estava cortado há dois meses e foi usado o da AMLD. O Inea alegou dificuldades para ajudar porque combatia incêdios em outros parques. O chefe da reserva fez muito mais do que poderia, diante de tanta precariedade. Não havia condições materiais para os voluntários trabalharem. Alguns deles urinaram nos dormentes do trem para aproveitar a “água”. Isso não é piada. Vi gente usando o próprio cantil para apagar o fogo. A luta era enorme para proteger florestas e as áreas em processo de restauração florestal: 50 mil mudas foram plantadas ali no último ano — contou Ferraz.

O chefe da Rebio, o analista ambiental Gustavo Lima Peixoto, disse que o telefone, que estava cortado há um mês por falta de pagamento, foi religado na segunda-feira, após o incêndio que queimou parte da vegetação da floresta. Ele informou também que, por falta de pessoal, não tem condição de fazer um levantamento dos animais mortos em toda a área destruída. A Rebio possui seis funcionários, dos quais dois estão de férias e um de licença médica. Os quatro funcionários terceirizados que cuidam da manutenção da sede pararam de trabalhar por falta de pagamento.
No ofício que mandou para o MPF, Paulo Maia pediu uma investigação profunda sobre o incêndio, tendo em vista os danos causados e os problemas enfrentados pelos ambientalistas e voluntários que combateram o incêndio:

— O que podemos esperar de uma instituição que não tem nem telefone na sua principal reserva no Estado do Rio? Pela gravidade do incêndio, acredito que a investigação tenha que ser profunda e que se chegue o mais rápido possível aos responsáveis por mais este dano irreversível ao meio ambiente. Fico imaginando o desespero dos animais tentando escapar das chamas e morrendo sem ter um ser humano para socorrê-los. A Rebio fica numa região milionária a poucos quilômetros do Rio. Não está no agreste nordestino — criticou Paulo Maia, que não esquece das imagens que presenciou. — É terrível vivenciar isso. As imagens dos animais mortos são terríveis. Depois de vê-las, passei a noite em claro.

De acordo com a assessoria dos bombeiros, homens do destacamento de Casimiro de Abreu atuaram no combate às chamas desde a última sexta-feira, quando o fogo começou. Eles informaram, ainda, que a operação só foi finalizada no último domingo, com o apoio de guarnições de Magé, Macaé e Cabo Frio, além da aeronave da corporação.

Fonte: http://oglobo.globo.com/

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