Argentino peladão pode ser deportado

Por Filipe Rangel e Diogo Reis*

O argentino Leandro Luis Leiva, detido na tarde de anteontem por ato obsceno, pode ser deportado do Brasil. A sugestão é do inspetor Kawakami, responsável pela investigação do caso, por conta do acúmulo de anotações criminais do acusado – foram nove desde 2006. A recomendação ainda tem que passar pelo crivo do delegado-titular da 126ª DP (Cabo Frio), Luiz Cláudio Cruz.

A nona ocorrência que tem o nome de Leandro Leiva como autor foi registrada anteontem, quando ele ficou nu em uma loja de biquínis e se insinuou para a balconista, de 17 anos – o rapaz tem 39. Antes disso, ele já havia sido autuado por ameaça, injúria, violação de domicílio e lesão corporal, tendo inclusive um mandato de prisão preventiva – cumprido em 31 de maio de 2011 – em seu nome.

O último contato de Leandro com a polícia havia sido na noite anterior à da detenção. Primeiro, ele invadiu a casa da ex-mulher Verônica Julieta Zverko, na Rasa (Armação dos Búzios) – onde também mora – e fez diversas ameaças. O casal tem dois filhos, que moram com Verônica. Ela, que é argentina, e as crianças, brasileiras, estão fora de casa desde o incidente.

Não satisfeito, logo depois de ameaçar a ex-mulher, Leandro voltou para casa e espancou o pai, Pedro Ângelo Leiva, de 68 anos de idade. O idoso conseguiu fugir de casa e foi parar em um bar, onde foi socorrido pelo comerciante Francisco Lopes, 52.

– Ele chegou até aqui todo ensanguentado, cambaleando. O que eu sei é que o Leandro já tinha ido até a casa da ex-mulher, feito confusão, quebrado algumas coisas lá e depois voltou para casa. Quando chegou, encontrou o pai dormindo e bateu nele. Ele tentou matá-lo. O senhor veio cambaleando para fora de casa e chegou até o bar em que eu estava. Eu o coloquei deitado na lateral do bar e liguei para a polícia. A viatura veio rápido, porque a Verônica já tinha chamado também – contou o comerciante. Pedro Ângelo também não está mais em casa e vizinhos afirmam que ele voltou para a Argentina.

Passado de transtorno e recuperação

O olhar fixo de Leandro na foto que já está correndo o país inteiro em sites e jornais denuncia: o argentino não estava em seu estado normal quando cometeu seu último crime até agora. Uma busca mais aprofundada no passado dele aponta para um histórico de envolvimento com drogas ilícitas, bebida e transtornos psicológicos.

Dono de um bar que fica a cerca de 300 metros de onde Leandro mora, Gery da Silva, 41, lembra das fases do rapaz.

– Quando ele chegou por aqui, há uns sete anos, era um cara normal, casado, tudo certinho. Pouco tempo depois ele começou a surtar. Nossa suspeita sempre foi envolvimento com drogas. Ele fazia muita confusão por aqui, tentava entrar de cueca no mercadinho, mexia com os outros na rua. Foi mais ou menos nessa época que ele se separou – revelou Gery.

Depois da separação, o problema de Leandro só piorou.
– Ele começou a beber muito, vinha sempre aqui no bar. Emagreceu muito também. Depois disso, sumiu, ficou fora uns dois anos – lembrou. O período ausente, segundo palpite de Gery posteriormente confirmado por vizinhos, era por conta de uma internação em clínica de reabilitação para dependentes químicos.

– Quando ele voltou, estava bem. Mais forte, mais saudável. Isso não tem nem seis meses. Estava trabalhando, passava sempre por aqui e aparentava estar muito melhor. Fiquei surpreso quando vi no jornal que ele havia sido preso – espantou-se.

No período de melhora citado pelo comerciante, Leandro trabalhou como garçom no restaurante Faria’s Grill, em João Fernandes, Búzios. Existe uma ocorrência registrada com autoria do argentino que dá conta de uma briga e ameaças a um expatrão, mas a reportagem da Folha não conseguiu confirmar se o homem em questão era o proprietário do restaurante e nem a causa da demissão.

Argentino volta a
aprontar na cidade

Leandro Leiva não ficou preso por conta do que fez com a balconista da loja de biquínis, mas passou algum tempo na cela de detenção. Ainda assim, ele parece não ser capaz de parar de causar confusão: no início da tarde de ontem, ele foi visto na agência do Bradesco, em São Cristóvão, importunando os clientes.
– Ele chegou lá, descalço, mas com as roupas dessa vez, e ficou se dizendo correntista do banco. Pediu para ser atendido pelo gerente e ficou falando coisas sem sentido com os clientes – contou o analista de sistemas Lucas Faria, 31, que testemunhou a ação de Leandro.

Filipe Rangel e Diogo Reis são repórteres da Folha dos Lagos