segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pobre de infraestrutura, Tamoios prepara grito de independência



Por CÁSSIO BRUNO

TAMOIOS (RJ) - Com 40 mil moradores, Tamoios, distrito de Cabo Frio, na Região dos Lagos, está na fila da emancipação. 

A região, cortada pela RJ-106 (São Gonçalo-Macaé) e pelo Rio São João, aguarda a decisão do Congresso para iniciar o processo de independência. Desde 2010, há um decreto aprovado na Assembleia Legislativa (Alerj) para realizar um plebiscito sobre o tema. Enquanto isso, a população convive com um contraste entre as belezas naturais da região e a falta de infraestrutura. No local, há ainda um histórico de denúncias relacionadas à extração ilegal de minerais e à degradação ambiental.

Se a emancipação de Tamoios sair do papel, Cabo Frio, com 186.227 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perderá 303,7 quilômetros quadrados de área de um total de 410,4 quilômetros quadrados. Não é só isso. A cidade deixaria de receber mais da metade dos repasses dos royalties de petróleo por causa da exploração do produto na plataforma marítima de Tamoios. Em 2012, Cabo Frio embolsou R$ 324,9 milhões com o benefício pelo atual modelo de partilha. Hoje, o orçamento municipal é de R$ 784,8 milhões.

Boa parte das ruas de Tamoios não tem asfalto. Há casas construídas irregularmente às margens do Rio São João, principal fonte de abastecimento de água da Região dos Lagos. O atendimento no principal hospital do distrito é realizado apenas das 8h às 20h. Fora desse horário, a única opção é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do governo do estado. O Centro de Cabo Frio, onde fica a única delegacia da cidade para fazer registros de ocorrência, está a 40 quilômetros de Tamoios.

— Moro há 18 anos aqui. O hospital é ruim. Não temos os serviços básicos. Quem sabe, com a emancipação, melhore — diz a dona de casa Adriana Ribeiro Batista, de 36 anos, grávida de seis meses e moradora da Rua da Torre, via sem asfalto.

Tamoios possui uma das maiores usinas de etanol do estado, além de abrigar mineradoras. Mas há casos de extração irregular de minerais. No ano passado, por exemplo, a Polícia Federal deflagrou a Operação Sustentabilidade para apurar as ilegalidades.

— O Ministério Público já pediu por diversas vezes o fechamento de algumas mineradoras para coibir a extração ilegal de areia. O parque municipal também sofre com a devastação — conta o promotor Luciano Mattos, que já atuou na região e, hoje, é presidente da Associação do Ministério Público do Estado Rio.

Desde 1994, quando Búzios se emancipou de Cabo Frio, há um forte movimento político para a independência de Tamoios. Foi criada até a Associação pelo Movimento de Emancipação (Ame-Tamoios). Em período de campanha eleitoral, o distrito, com 17.823 eleitores, é alvo de candidatos.

— Queremos uma cidade ordenada. O poder público não chega aqui — diz Luiz Carlos Carnaval, presidente da Ame-Tamoios, diretor de Transporte da subprefeitura do distrito e filiado ao PSDB.


O GLOBO esteve no gabinete do prefeito de Cabo Frio, Alair Corrêa (PP), na última quarta-feira, mas ele não estava. A assessoria de imprensa de Corrêa não retornou as ligações para os pedidos de entrevista. Na sexta-feira passada, o prefeito anunciou um pacote de R$ 100 milhões para os próximos quatro anos destinados a obras de infraestrutura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário