sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia Internacional da Mulher: reflexão sobre a data





Dia Internacional da Mulher. Já ganhou sua florzinha hoje?

Estranho como nós mulheres nos relacionamos com a data e isso nos leva a refletir sobre a política no Brasil. Temos uma presidenta mulher, é verdade.  Somos a maioria da população e a maioria na hora de votar. A situação se repete em Cabo Frio. Mulheres somam 52% da população e 55% dos eleitores. Mas com exceção da Dilma, onde estamos nos espaços de poder?

Pense bem. Quantas mulheres ao longo da história você conhece que tenham obtido destaque social liderando ou protagonizando a cena política? Cleópatra na Antiguidade que foi desmoralizada como uma rélis sedutora de homens. Maria Madalena que conviveu com Jesus, apontada como a discípula predileta do Mestre, foi reduzida à adúltera. Joana Darc a maluca que ouvia vozes, se vestia como homens e morreu na fogueira.

No Brasil, podemos citar algumas como Chiquinha Gonzaga que ao seu tempo foi vista como uma boêmia que seduzia rapazotes. Tivemos também a escritora e jornalista Patrícia Galvão, ou Pagu, que filiada ao Partido Comunista, por ocasião de um protesto, foi a primeira presa política do Brasil, mas ficou reduzida a figura de amante do poeta burguês, Oswald de Andrade.

Deputada Carlota
Mas e sobre a médica Carlota Pereira de Queiroz? Sabia que foi a primeira mulher eleita deputada no Brasil e única participante da Assembléia Nacional Constituinte em 1933? A deputada destacou-se durante a Revolução Constitucionalista, movimento de contestação à Revolução de 1930, ocorrido em São Paulo, em 1932, quando conseguiu arregimentar 700 mulheres para dar assistência aos feridos no conflito.

Carlota integrou na Constituinte a Comissão de Saúde e Educação, onde trabalhou pela alfabetização e assistência social aos mais carentes. Foi autora do primeiro projeto de lei para a criação de serviços sociais no país, assim como da emenda que fundou a Casa do Jornaleiro e o Laboratório de Biologia Infantil. Carlota foi protagonista da cena política, mas nunca ouvimos falar dela nas escolas.

Veja o caso de Cabo Frio, que tem uma câmara municipal com mais de 100 anos de fundação, e para espanto da maioria dos eleitores, somente quatro mulheres conseguiram se eleger até hoje. Honestamente: uma vergonha para o processo democrático.

Precisamos repensar urgentemente nossa forma de encarar a política. Se somos a maioria da população, onde estamos nos espaços de poder para participar das decisões? 

Dia Internacional da Mulher: uma data que se presta apenas a tratamento de beleza e doação de flores? Basta! Queremos poder para definir os rumos do país em todas as instâncias. Isso sim é legitimar a data.

O resto é alienação medíocre.


Renata Cristiane é jornalista, historiadora e ocupou vaga no Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres (CEDIM). 

Um comentário: