Ficha Limpa
iguala direitos
Estava
acompanhando pela internet a votação da validade ou não da Lei da Ficha Limpa
para as eleições de outubro e um argumento de um ministro que votou contra me
chamou atenção. Segundo ele, do jeito que está, a lei fere o princípio da
presunção da inocência, pois não espera que todas as instâncias jurídicas sejam
apreciadas para que o réu seja tornado inelegível.
Na sua
argumentação, lembrou que várias decisões de outras instâncias foram reformadas
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que impedir qualquer candidatura sem o
martelo da última instância seria um risco. A gente poderia até concordar com
isso, mas fica difícil quando lembramos que um cidadão comum fica impedido de
prestar concurso público caso tenha sido condenado em algum processo.
Se qualquer
um de nós, ao ser condenado em primeira instância, é visto pela lei como
suspeito para ocupar um simples cargo de auxiliar administrativo, por que os
que irão ocupar cargos mais importantes, como os de vereador, prefeito, deputado
estadual ou federal, senador, governador ou presidente não tem o mesmo
tratamento?
Vale
lembrar que a inelegibilidade é temporária e não é uma punição em si. Se o réu tem dinheiro
suficiente para bancar advogados até a última instância e nela for liberado, sua
ficha fica limpa novamente. Mas enquanto estiver mais do que sob suspeita,
condenado por colegiado de juízes, não tem condições morais de assumir um cargo
público.
Há quem
tema o recrudescimento da judicialização do processo eleitoral, algo que já
está em alta aqui em Cabo
Frio e foi o fator de destaque nas eleições de 2008. Com
certeza, essa lei, se entrar mesmo em vigor e pegar (no Brasil, as leis pegam
ou não), o número de candidatos que irá entrar com recurso para não cair na
malha fina da Ficha Limpa não vai ser pequeno.
Só que se
essa esperada mudança acontecer, ao contrário da eleição de 2008, quando
tivemos em São Pedro
da Aldeia, Carlindo Filho em campanha, mesmo impugnado pelo TRE, o candidato
terá de parar com toda a propaganda e aguardar o resultado do recurso. E há
casos e casos. Temos, por exemplo, a condenação do ex-prefeito José Bonifácio
por supostas irregularidades nas contas da Saúde de Arraial, mas se ele provar
o que vem afirmando, que assumiu a secretaria em novembro e o problema ocorreu
antes disso, tudo fica tranqüilo.
Por outro
lado, temos o ex-prefeito de São Pedro, Paulo Lobo, com duas condenações no
Legislativo e 12 no TCE. Desconheço a origem dos problemas junto ao Tribunal,
mas até o postes sabem que o que houve na Câmara Municipal foi originado por
perseguição política. Em ambos os casos, paira a suspeita sobre os sujeitos.
Eles não podem fazer concurso, mas podem ser candidatos. Esquisito isso, não?
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