Mais uma
morte anunciada?
Não faz
muito tempo, ouvi de alguns amigos que moram na abastada Barra da Tijuca, Rio
de Janeiro, notícias que para eles pareciam ser animadoras em relação às
comunidades próximas a suas residências. Contavam eufóricos que a polícia tinha
expulsado o tráfico e que estava dominando o pedaço. Ainda não eram as famosas
Unidades Pacificadoras de Polícia (UPPs), o domínio era informal e passou a ser
conhecido pouco tempo depois como milícias.
Logo, as
milícias ganharam a mídia e para os desinformados, era o início da vitória
contra o tráfico. Mas aos poucos a sociedade foi se dando conta de que o que
estava acontecendo mesmo de verdade era a criação de uma nova facção criminosa,
talvez até mais perigosa, porque fardada e com “autorização” para matar.
O braço
dessas milícias foi se expandindo, chegou ao poder público, com eleição de
vereadores, deputados e andou recentemente bem pertinho de nós, quando o
prefeito de São Pedro da Aldeia, Carlindo Filho, nomeou o ex- PM Francisco
César de Oliveira, o Chico Bala (afastado pela acusação de chefiar a milícia de
Campo Grande, Rio de Janeiro), para a subsecretaria de Transporte. O mal foi
rapidamente desfeito com a atuação do Ministério Público, que exigiu a
exoneração do ex-policial, que tempos depois foi preso no Espírito Santo, onde
se escondia numa mansão em Guarapari.
Para apurar
a atuação desse verdadeiro poder paralelo, foi criada em 2008, na Assembléia
Legislativa (Alerj) uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que foi
presidida pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). As investigações
culminaram com o indiciamento e prisão de centenas de policias e políticos.
Desde
então, Freixo é cabra marcado para morrer e teve sua rotina totalmente
transformada por um esquema de segurança montado pela Alerj. Após o assassinato
da juíza Patrícia Acioli, as ameaças contra o deputado recrudesceram e no
último mês, o Disque Denúncia da Secretaria de Segurança recebeu diversas
ligações avisando as autoridades que novos esquemas estavam sendo montados por
milicianos que querem se livrar do incômodo político.
Com isso,
não restou ao deputado outra alternativa a não ser aceitar a oferta da Anistia
Internacional e se mandar do país com destino não divulgado. Segundo ele, será
por apenas 15 dias, para que seja refeito o esquema de segurança.
Quem
assistiu o filme Tropa de Elite 2, percebeu claramente que o personagem Fraga,
o deputado de esquerda, interpretado por Irandhir Santos, era inspirado em Freixo. No mesmo filme
o Coronel Nascimento, em mais uma atuação brilhante de Wagner Moura, afirma, no
final da película, que só há uma solução para a PM do Rio: a extinção e o
recomeço. A idéia é radical e inviável, mas no ponto em que chegamos, onde um
comandante de Batalhão é preso acusado de comandar o assassinato de uma juíza e
policiais são suspeitos de armar contra a vida de um parlamentar (sem falar em
outros milhares de crimes que não caberiam nesse espaço), alguma coisa que tem
de ser feita. Em respeito aos policiais que honram a farda que vestem e a todos
nós, que pagamos esses salários. Não me sinto bem no papel de patrão de
bandido. Ou vamos chorar outra morte?
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