sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Coluna do Renato Silveira da Folha dos Lagos






Mais uma morte anunciada?

Não faz muito tempo, ouvi de alguns amigos que moram na abastada Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, notícias que para eles pareciam ser animadoras em relação às comunidades próximas a suas residências. Contavam eufóricos que a polícia tinha expulsado o tráfico e que estava dominando o pedaço. Ainda não eram as famosas Unidades Pacificadoras de Polícia (UPPs), o domínio era informal e passou a ser conhecido pouco tempo depois como milícias.

Logo, as milícias ganharam a mídia e para os desinformados, era o início da vitória contra o tráfico. Mas aos poucos a sociedade foi se dando conta de que o que estava acontecendo mesmo de verdade era a criação de uma nova facção criminosa, talvez até mais perigosa, porque fardada e com “autorização” para matar.

O braço dessas milícias foi se expandindo, chegou ao poder público, com eleição de vereadores, deputados e andou recentemente bem pertinho de nós, quando o prefeito de São Pedro da Aldeia, Carlindo Filho, nomeou o ex- PM Francisco César de Oliveira, o Chico Bala (afastado pela acusação de chefiar a milícia de Campo Grande, Rio de Janeiro), para a subsecretaria de Transporte. O mal foi rapidamente desfeito com a atuação do Ministério Público, que exigiu a exoneração do ex-policial, que tempos depois foi preso no Espírito Santo, onde se escondia numa mansão em Guarapari.

Para apurar a atuação desse verdadeiro poder paralelo, foi criada em 2008, na Assembléia Legislativa (Alerj) uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que foi presidida pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). As investigações culminaram com o indiciamento e prisão de centenas de policias e políticos.

Desde então, Freixo é cabra marcado para morrer e teve sua rotina totalmente transformada por um esquema de segurança montado pela Alerj. Após o assassinato da juíza Patrícia Acioli, as ameaças contra o deputado recrudesceram e no último mês, o Disque Denúncia da Secretaria de Segurança recebeu diversas ligações avisando as autoridades que novos esquemas estavam sendo montados por milicianos que querem se livrar do incômodo político.

Com isso, não restou ao deputado outra alternativa a não ser aceitar a oferta da Anistia Internacional e se mandar do país com destino não divulgado. Segundo ele, será por apenas 15 dias, para que seja refeito o esquema de segurança.

Quem assistiu o filme Tropa de Elite 2, percebeu claramente que o personagem Fraga, o deputado de esquerda, interpretado por Irandhir Santos, era inspirado em Freixo. No mesmo filme o Coronel Nascimento, em mais uma atuação brilhante de Wagner Moura, afirma, no final da película, que só há uma solução para a PM do Rio: a extinção e o recomeço. A idéia é radical e inviável, mas no ponto em que chegamos, onde um comandante de Batalhão é preso acusado de comandar o assassinato de uma juíza e policiais são suspeitos de armar contra a vida de um parlamentar (sem falar em outros milhares de crimes que não caberiam nesse espaço), alguma coisa que tem de ser feita. Em respeito aos policiais que honram a farda que vestem e a todos nós, que pagamos esses salários. Não me sinto bem no papel de patrão de bandido. Ou vamos chorar outra morte?



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